quarta-feira, 1 de maio de 2013
O que me fode é minha imaginação. Ela. Só ela. Sozinha dentro da minha cabeça ela é minha domadora e não usa chicotes! Porque vejam, estão vendo ali do lado, aquele dois seres conversando? Eles tão discutindo se a traição dela foi forte demais para ele e se ele, pobre coitado, deve ter seus um metro e setenta, camisa aberta no segundo botão, peito peludo como de macho dominante, calça folgada nas pernas e com a bainha por fazer, bem, eles estão discutindo se a traição dela é um fardo grande demais que ele não consiga carregar. Ela, ah ela... charmosa, olhar restrito aos que a chamam e de pensamentos alterados pelo álcool consumido... Ah! esqueci de dizer: estamos numa festa, ou ainda não perceberam? Está tudo meio escuro ainda, início de tudo, pessoas arrumadas, cheirosas, bem vestidas e com as intenções mais sórdidas veladas por sorrisos extravagantes e goles rápidos de alguma coisa que os deixem loucos, que nos deixem loucos! Ah e não me diga que você não percebeu que, leitor, você também está aqui, é aquela pessoa ali no canto, com uma cerveja na mão e com a dúvida se deve ou não acender aquele cigarro que tinha há tanto tempo decidido não acender mais. Bem... aqui estamos, aqui na festa, uma dessas qualquer que chegamos sem saber como e vamos embora carregados pelos amigos sóbrios... é nesse lugar que o nosso casal, ainda sem nome, está discutindo a traição da moça. Mas vejam... que coisa mais engraçada acontece aí do seu lado: a música subitamente trocou de ritmo e todos dispõem-se a dançar com seus pares, é nessa hora, que do seu lado, ai bem no seu canto do olho esquerdo, você percebe: estão te chamando por meio de olhadas destruidoras para ser o par de alguém. Você ainda não decidiu nada a respeito, afinal de contas veio para a festa para aproveitar e não queria saber de nenhuma outra coisa além de se divertir e rir com as piadas cada vez mais sem graça, mas enfim, aqui está você sendo chamado para ser o par de alguém. Logo você! Que acabou de terminar um longo relacionamento, que como todos os relacionamentos começam com juras eternas de amor e carinho, planos de casa conjunta e discussões sobres modelos educacionais dos filhos esquisitos que você terão. Assim você está e sendo assim, procura não responder aos olhares que vem pela sua direita. Ao lembrar disso tudo lhe vem à cabeça aquele dia em que tudo terminou e o seu relacionamento estava sendo discutido numa festa, parecida com aquela, com pessoas parecidas com conversas tão chatas como aquelas, lhe parece tudo tão igual que você começa a se perguntar se aquela festa não é a festa em que você estava discutindo com sua, agora, não mais amada, futura ex-mulher de toda a vida, enfim, aqui está você! Mas na verdade, quem é você? Você, caro leitor, você sou eu! E nossa imaginação nos fode! E porque escreve então? Porque se não escrevesse minha imaginação já teria se transformado em mim e eu não seria nada do que eu sou hoje, sendo que sou, minto: sendo que já somos a nossa imaginação! A nossa linda e louca e desvairada imaginação!
 

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