segunda-feira, 29 de abril de 2013
Tinha, ontem, escrito uma coisa linda. A carta mais linda que já escrevi, nela, meu amor, existiam reis, rainhas, impérios e personagens que nós criamos juntos e todos nos serviam! Erámos, nós reis! Reis de nós mesmos. Tinha de tudo que pudesse fazer com que ela fosse linda. Falava do nosso início, falava de como erámos inocentes e como amávamos, assim, como duas crianças lindas que não ligam de estarem sujas de lama e barro, e que ao notarem a sujeira feita, riam, riam muito! Porque os cavalinhos de barro que fizeram eram tão feios e esquisitos e ao mesmo tempo a coisa mais linda já feita, era linda, repito. . Lembrei das nossas expectativas, do nossos sonhos conjuntos que eram tão reais que nem pareciam sonhos, pareciam ( e eram) a nossa realidade, fui escrevendo, como quem faz um bolo, e você sabe, não se tem como recomeçar um bolo quando os ingredientes estão postos, não tinha como também recomeçar aquela carta. Fui escrevendo, escrevendo... chamei nosso filho, que ainda não existe, para me ajudar, e sabe o que ele disse, meu amor? Papai, diz pra mamãe que estou com saudades! Quando ele falou isso, pus menos açúcar na receita, o bolo ia adoçar demais, capaz de que quando comesse, o enjoo fosse súbito e estragasse a lindeza da carta. Ah, ele, nosso filho, manda lembranças, você precisa ver como ele é lindo... de riso solto e dentinho da frente quebrado, parecido com o pai. Pula tanto ao saber das coisas que falo que ele irá conhecer que sua energia é contagiante e demos tantas gargalhadas juntos que a barriga doeu. . Parecia que a carta nunca acabaria, sabe? Parecia que ficaria a eternidade escrevendo ela, era tão gostoso, fazer aquilo tudo, misturar farinha, palavras, açúcar, letras garrafais! Nunca tinha escrito uma carta tão linda, juro! Algum dia imaginei que teria a coragem de entrega-la a você, mas não... quer saber a verdade? Eu acho que foram os benditos ovos, estavam pobres.. e acabaram por estragar a massa, digo, a carta. E depois de escrita, da minha mão cansada, do meu peito estufado e daquela falta de ar como a de quem está parindo... peguei a carta, essa linda como ela era, porque era verdadeira, e quemei-a.

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