velho novo

Certo dia fiz uma viagem, queria perceber coisas que estavam fora do meu dia-a-dia monótono, fui a uma cidadezinha distante, perto de pasárgada. Cheguei por lá, hospedei-me em uma pousada, não muito boa, o dinheiro era pouco mas a criatividade de ver naquela pousada, um enorme castelo, com milhares de empregados, essa sim era grande. Decidi sair a noite e encontrar alguém para conversar, discutir assuntos fúteis, relaxar. Andei vagando por horas nas ruas quase desertas daquela minha cidade, até que certa hora encontrei-me com um cidadão, um senhor já com seus 60, 70 anos no máximo, e não sei como e o porque de começarmos a conversar, foi algo natural, parecíamos amigos de velhos tempos. Na verdade éramos. No meio da conversa ele interrompeu-me subitamente, como se aquilo que iria falar era a coisa mais importante da sua vida, uma bíblia de como viver bem. Falou certas coisas que só depois de um tempo comecei a entender o seu real sentido.

Tento agora, depois de alguns anos do nosso encontro, relatar esse trecho da nossa e decisiva conversa. Assim começou o velho:

-Filho, a velhice me chegou e dela só posso tirar os cabelos brancos e a aprendizagem dos erros e dos acertos. Aprendi algumas coisas importantes sobre o viver, vou te dizer, cuidado elas são preciosas. Você não é tão inteligente o quanto pensa, se é que ainda pensa. Você irá conhecer muita gente, viverá com algumas especiais, mas o quão rápido chegaram, irão embora. Você não é tão bonito o quanto acha e não irá ter todas as mulheres que deseja. A juventude é a etapa da vida mais rápida porém a mais difícil e conturbadora. A televisão irá te consumir por inteiro, livre-se logo dela. Sua crença ou descrença não é sua vida, não siga-a por completo. Tenha bastante sede pois o conhecimento e a sabedoria são rios que nunca secam e dessa água beba até farta-se diversas vezes. Seja uma pessoa exemplar para você e para as outras pessoas também. O álcool não é a melhor forma de escapar dos compromissos, ele só te faz ter mais. Não respeite demais as leis, elas atrapalham mais do que ajudam.

Depois de dizer essas palavras o velho pediu licença e saiu andando até um bar, quando fui atrás dele, tinha sumido, escapado, até hoje não sei por onde, acho que foi pelo sol que me acordou.

Quando escrevo agora relembrando do meu encontro com o velho, percebo que ele é minha forma perto da morte, não só minha, mas de todas aquelas pessoas que se vêem encaixadas no parágrafo acima. Aquele meu devaneio na hora do descanso me rendeu uma boa perspectiva da vida.