era algo simples: pegar um papel,
caneta preta,
falar de amores,
paisagens,
rimas abertas ou fechadas.
E assim vai seguindo...
Mas estava enganado,
é pura disciplina,
como as piores profissões.
Depois de escolhida não há volta.
Escrever sem ser disciplinado
é como fazer música sendo surdo-
salve Beethoven, ligacão entre
Deus e o homem- é como fazer cinema sendo cego.
É preciso olhar para dois velhos,
e sentir a pureza no toque das suas mãos enrugadas.
É olhar para o beijo- atencao no definitivo-
e ver a beleza dos lábios
que se tocam, e das almas que se amam.
É olhar pra quem passa fome
(não olhar passando pela rua ou pela calcada).
Olhar a tristeza nos seus olhos,
a sujeira nas suas mãos pedintes,
a feiura de seus lábios sedentos,
o ódio de sua alma.- Não me entendam mal-
Que não por ruindade odeia,
mas sim porque o amor nunca lhe foi fiel.
Parar de dizer
Quero antes de tudo.
Parar de usar o primeiro pronome do caso reto.
Parar de ser tão egoísta,
e tentar fazer qualquer coisa humanista.
Poder dizer que usei os olhos
para aquilo que
eles foram feitos:
Olhar, analisar. Pensar.
Porém( e há sempre um pórem),
é algo difícil, complicado.
Não é como ir no Padeiro
e pedir pão, é como ir a
guerra e pedir paz.
É como ir a alguem que nunca amou
e pedir que ame.
Tomara que um dia
consiga parar de escrever
de dentro e mostrar
o que ta fora,
na nossa cara, batendo e espancando
e ninguém ver.
E quero antes de tudo...
O homem, em sua essência,
nada achará. Nada além de si mesmo.
Que se cruzem os mares.
Que se conquistem as terras.
Que se doem o amor.
o homem, em sua essência,
nada mais achará... nada além do mundo todo.
poeminha rapidinho
sábado, 31 de outubro de 2009a vida é curta
tudo passa
o resto já não é nada
que é tão tentador ao amado?
Era, antes de tudo, bem servido
a ti nunca faltava nada, meu querido!
E agora depois de lencois sujos,
compromissos comrrompidos;
amores bandidos...
Terás a única coisa que esqueci de te dar:
uma morte de quem só soube te amar.
Soneto ao amor negro
segunda-feira, 26 de outubro de 2009Por ter de lembrança
Algumas fragrâncias
De uma morena esperança
Escrevo em papel branco
Para meu amor negro
Que me faz encher o peito
Ao dizer te amo
Escrevo, antes de mais nada,
Para minha mulher amada
Para dizer que sem ela a vida é nada
E penso que se é de amor que vivo
E se é paz que inspiro
É porque fui amado pelo meu amor negro
que faz me sentir perdido assim
em que parte do seu coracao
deixei um pedaco de mim?
Minhas despedidas são sempre doloridas.
O peito arde, as mãos se escorroem. A pele sente
o que vem dos olhos.
Não gosto de dar adeus!
A alma chora
o peito rebenta
e estoura.
E a brisa...
a maldita fria brisa!
Me faz me sentir
mais frio do que
já sou sem você.
Já disse: não gosto de dar adeus!
Principalmente quando é a Deus que se vão.
ouvidos? Piaf!
Vem! Pardal que
voa por dentro
e desbanca qualquer
gavião posudo de pedra
Piaf! para que meu
coracao transborde,
e para que meus olhos
sejão reflexos de um
agoro passado.
Que me consome até o fim.
Que me faz ser rios e vulcões
Quem será, meu Deus, meus vilões...?
gramática
quarta-feira, 7 de outubro de 2009faz do corpo interrogacão
do olhar reticências...
da boca exclamacão!
do amor, ponto final.
-Não me venham com porques ou razões explicativas. Simplesmente: há a vontade de choro.
Sentimentos não se explicam. Explicam-se.
É uma vontade que faz o lirismo transbordar em lágrimas
salgadas. Que junta com outros sentimentos se transformam no detergente da alma.
Os olho, antes obscuros, se limpam e botam pra fora todo um brilho. Milagrosa lágrima!
E há antes de antes da vontade de choro,
a necessidade de amar.
hoje, se me perguntar não sei dizer onde está.
me transbordo de raiva
porque inconscientimente,
me vem a cabeca que
a minha, minha pobre consciência
não mais habita em mim.
penso que está
em sinopses de outras cabecas-
Em trocas nervosas de outros errantes neurônios.
Sim! penso isso porque
nada mais do que eu faco consulto se me agrada ou não.
Sempre são os outros a quem peco: perdão...
Onde está minha consciência?!
Não! não pode ter sido perdida em qualquer lugar
Pois é minha, minha pobre consciência...
Será que enfureceu-se comigo porque não mais a consultava?
Tomei susto na primeira vez. Nunca, repito, nunca antes tinha visto um pedinte na porta do meu edifício. A imagem lembrava a minha cidade natal, mas depois de lá ter saído jamais tinha visto pessoas assim. Não sei se fosse pelo susto, ou pela raridade de ver tal cena: sujeito sentado no chão sujo, costas encostadas na parede pintada de lodo, que me foi interessante. Era claro que algo tinha que fazer, quem sabe oferecer um prato de comida, um copo de suco, um banho, alguma muda de roupa. Optei por algo concreto.
Sou poeta e jornalista, trabalho simples, escrevo para suplementos culturais de um jornal de pequena influência. O soldo não é lá essas coisas boas da vida, porém sustenta-me e paga meus lazares pequenos: andar na praia, ver nascer do sol, alimentar pombos, dormir nu. Mas sim, de volta a minha manhã, saia para andar como de costume, passear, olhar andares e pernas. É o ócio do ofício da criação, ter inspiração. Então eis que a cena surge, ele era de feição boa, pedinte por profissão como se ver na cara, simpatizei e aí então surge a dúvida: o que dar-lhe? Algo concreto? Roupa, comida, dinheiro?
Era um pedinte engraçado, me viu e nada falou, olhou-me como quem sabia exatamente o que estava fazendo e pra quem estava olhando. Eu, culto como sou, dei meia volta e de volta no muquifo peguei e desci com Drummond, Vinícius, Pessoa e Gullar. Trouxe-lhe o melhor que havia encontrado, entreguei-lhe sem falar nada, meu braço estendido mostrava uns 4 exemplares, ele educadamente estendeu seu braço também e acolheu aquelas obras.
Da segunda vez, o susto não foi grande, pensei que ele teria ido embora, trocado de local de trabalho, arranjado algum abrigo. Mas não, ele continuava ali, sentado da mesma maneira que da primeira vez. Dessa vez fui mais prático, nada de tantos pensamentos, subi mais uma vez e trouxe-lhe comida, suco, e dessa vez, um pouco de Espanca. Os primeiros livros pareciam ter sidos apreciados, estavam com aquela cara de terem sidos folheados e lidos. Segui meu percurso rotineiro, direto para o jornal entregar meu suplemento e receber alguma coisa que pagasse luz. Chegando em tal local a surpresa: de mim não precisavam mais nada, meus serviços seriam desnecessários tendo em vista que cultura não era bem apreciado pela população. Puto que fiquei, fui andar entre árvores e voltei pra casa.
Da terceira vez, nem ao certo sabia se ele estaria lá, já desci com tudo: comida, suco, roupa e um punhado de escrituras minhas mais uma indagação na cabeça. Seria nosso primeiro diálogo. Entreguei-lhe tudo que havia trazido, e ali sentei por alguma medição de tempo que é me falha na memória.
Por fim como quem não tinha mais nada o que fazer disse-lhe meu questionamento: porque tanto mendigas, sempre no mesmo local e sempre da mesma maneira? E agora você, leitor, qual resposta acharia que nosso companheiro nos daria? Surpreso fiquei com tanta verdade que me vinha aos ouvidos naquele momento: Pela mesma razão que vocês, poetas, escrevem poemas, batem à porta dos corações alheios e sempre mendigam amor.
Subi enfurecido por dois motivos, primeiro porque verdade era, pura, branca, gelo. Segundo porque eu? Logo eu? Que me achava senhor amo do entendimento das coisas e dos amores, fui desbancado por um pedinte, que só diferenciava de mim nas roupas, na comida e no suco.
Papelaria
domingo, 5 de julho de 2009
Esta é a primeira vez que isto faço. Sentar a frente do computador, abrir folha, escrever, sem nada apagar. O que na cabeça vier é colocado. Nada de palavrinhas bonitinhas, estéticas, pensamentos anteriores, razões exteriores pelo que é escrito, paixões não correspondidas ou cartas de adeus. Apenas letras, cruas, mal feitas. Me faz ser necessário escrever, mal sei por qual razão tenho isso. Creio que deve-se ao fato de falar pouco, ficar calado, observar sempre, refletir ao fim e tentar compreender ações vistas.
Mas chega! Nada de tanto pensar! Nada de tanto compreender! Quero mistérios, ações irracionais, jogadas não pensadas, pessoas que cometam erros!- como Fernando ajuda nessas horas- Preciso, antes de mais nada, me mudar. Criar uma nova pessoa, metamorfosear. Porque a vida, meu amigo, é rápida. Nunca espera, piscoupassoupassoudenovo. E agora que na cabeça nada mais me veio, e parado estou, esperando vir o que quiser vir. Entendo por quais motivos me veio a cabeça o propósito inicial do texto. A vida simplesmente é: uma folha, um lápis e nenhuma borracha. Não existe relógio mágico, nem andarilho do tempo. Não existe tempo perdido, porque o que se perde, se recupera. O tempo não.
jl
Como se Deus, de Eva tivesse
tirado a maçã pecaminosa.
Aquela que mataria nossa sede
e nosso desejo de ser e ter um ao outro.
Amamos porque de carne somos feitos.
Como se o vinho banhasse nossos
corações, e partir desse tinto
veias e artérias se pintassem de vermelho amor
Amamos porque sem amor
a vida é vaga, sem sentido:
um hiato de alegria, um barco sem rumo e sem cais.
Sorrimos pelo amor que aporta.
Choramos pelo amor que náufraga.
Vivemos, porque o amor é um mar de águas
inquietas e imprevisíveis.
Onde em portos de terras não firmes,
aventureiros corações almejam ser felizes.
tem que nele haver a verdade do poeta,
os sentimentos de um amador:
a angústia, a dor, a paixão, o sofrimento, a ingenuidade de uma criança.
alegria... nunca pode faltar
aquele poema que preza apenas pela boniteza
de suas letras, de suas palavras, de suas estrofes,
não é um poema, é um passatempo.
daqueles que passam bem rápidos e não marcam nem o dedo da alma.
é necessário que algo seja dito,
que pessoas sejam mostradas,
que mortes sejam publicadas,
que doentes sejam curados.
é indispensável que haja um amor:
entre a caneta e o papel,
entre a mente e a alma.
é necessário que haja o amor
entre o poeta e a ...
ele dói, corta, corrói.
Ei, amor, porque comigo não fala?
Esqueceu que nossas vidas foram conjugadas?
E que longe de você tudo complica,
calma, minha alma explica:
Eu te amo.
me beije, sugue todo o meu doce amargo
me lamba, carregue embora o meu sabor de saudade
me morda, deixe em mim sua forte marca
me sorria, roube de mim essa imensa alegria
me sangre, descarregue em mim seu veneno bondoso
me embriague, para que tudo fique mais fácil
me ame, porque já vou, e vou me matando pra em você nascer.
Uma lágrima cai
Um corpo, puro, de cal se desfaz
O peito se abre,
O sol se expande,
A alma se chora...
Assim segue o homem
Cujo o sangue corroí com rapidez
Aquilo que já amou mais de uma vez
um soluço que engasga o coração,
uma fraqueza que moe as pernas,
uma tremidão que range os ossos,
um arranhar que rasga as costelas,
um remexer que rompe as vísceras.
um calor e frio.
uma dor a fechar os olhos.
um parar que para o coração,
quando o amado, de repente, toma de prumo veias alheias
cantarei amor, alto e gritante.
Então! que portas sejam escancaradas,
e que paredes sejam derrubadas aqui no meu coração
Assim será o meu amor: puro, calado
afagado, um tanto atormentado
mas ainda sim será meu
o maior dos amores
Farei inveja a vocês
preguiçosos. Vejam: Eu amo!
Sintam em mim esse suspiro
Direi que sou( dos poetas pequenos)
o mais alucinado e iludido
Espalharei em todos o perfume
de um amor carente e amável
daqueles que não existem
Molha-te os pés e fita o horizonte
Espera-te calma e lentamente.
É um processo que digere o tempo e gera paz.
Respira-te fundo, o fundo dos males
Expira-os longe, onde a brisa os carregue.
Apodreça o relógio, não dê corda.
Se puder beba um pouco( não muito por causa do sono).
Para-te e deixe que entre,
irá percorrer todo o corpo e a alma.
Fecha-te os olhos, não muito
pois de súbito, como o amor, pode esvanecer...